domingo, 3 de abril de 2011

Cérebro-olhos-boca-costelas-coração

Pobre o coração que já não sabe mais porque bate. Preso em sua gaiola de ossos firmes e inflexíveis. Costelas que esmagam e não o deixam respirar. Coração que bate dentro da caixa toráxica fechada com 700 trancas blindadas. Não faz esforço pra sair, não quer, tem medo. Mas se faz de forte, tenta mostrar que é valente, que anda sozinho porque quer. Põe a culpa na vida que ainda não mandou a pessoa com o chaveiro certo para o libertar. É tudo culpa do coração. Não, não é o cérebro o rei deste corpo. O coração manda, o corpo faz, o cérebro produz a culpa no final. Cérebro sempre por último, cérebro bobo da corte. O cérebro comandado pelo coração.

Coração-relógio. Bate segundos, bate horas, séculos. Vê o tempo passar na espera, vê passar a vida e não se entrega. Coração-sangue, sangue que escorre por suas amarras, cansadas de serem debatidas a cada segundo. Tum-tum, tum-tum. Mais sangue que escorre, mais dor por viver. Coração-bomba-relógio, passa o tempo em desespero contido, em calmaria desesperada.

Olhos castanhos desvairados, procuram. Pra que lado é a saída de emergência? Vire a esquerda, e entre mais ainda nesse labirinto. Correm os olhos, as pernas não acompanham. Não acham a saída do quarto-labirinto, olham a porta, olham a sala, olham a rua, olham o mundo, mas não veem saída. Não existe saída, não existe vida. Então os olhos se fexam, se cobrem outra vez com o mesmo véu. 7 véus, 70, 7000. Não é o suficiente. Olhos fexados que ainda enxergam. Se abrem, mas tanto faz. Tira os véus, e volta a procurar a saída.

Boca que sorri num esgar, que projeta o grito, que se cala pra pensar. Boca que se pinta de vermelho, vermelho sangue, vermelho vinho; vermelho coração. Dentes que se mostram, dentes que se mastigam. Dentes que se camuflam num sorriso, pra não triturar o coração. Boca que se abre e não conclui. Boca que guarda o mundo em sua garganta, e que deixa escorrer o ácido pela língua. Boca que ri mas não sabe chorar. Boca que não chora pra não se lembrar. Boca que traga, que sorve pra aliviar. Boca que não fala do coração.

Sempre o coração.