sexta-feira, 29 de outubro de 2010

30 Days Letter Project - Dia 2 - Sua paixão

Paixão pode ser qualquer coisa que eu ame, certo? ;]

Música; depois de muito tempo da minha procrastinando pra achar uma forma especial de dizer tudo o que sinto, resolvi finalmente me declarar. E nada mais justo do que contar desde o começo a nossa história.

Da primeira vez que nos encontramos, eu tive medo. Another brick in the wall soava através do toca-discos da minha casa. Bem na parte do coro das crianças, a primeira lembrança que eu tenho de você; e a primeira lembrança da minha vida. Eu tinha 2 anos. Lembro de ter deitado quietinha no sofá, escutando as vozes infantis que me pareciam tão sombrias.

Beatles, Queen, Rolling Stones, Led Zeppelin, Jethro Tull, Kitaro, Janis Joplin. Era o que mais se ouvia na vitrola durante as madrugadas de sábado pra domingo na minha casa. Meus pais e os amigos na varanda, e eu escondida no corredor, pra ouvir só mais um pouquinho daquelas notas mágicas que não me deixavam dormir. Não me incomodavam; me deixavam encantada. Freddie Mercury, era de longe a voz que eu mais gostava de escutar. Me pergunto se o verbo 'cantar'foi inventado pra/por ele.

Alguns anos depois: Spice girls! Aquelas cinco garotas inglesas que fizeram pensar, do alto da sabedoria de meus 6 anos de idade, 'quando eu crescer, eu quero cantar'. Desde então, não houve um só dia na minha vida que eu não cantasse pelo menos uma estrofe de 'Wannabe' no meu inglês embolation.

A partir daí, passei a absorver de verdade o gosto musical dos adultos que viviam na minha casa. Os músicos nacionais foram tendo lugar no meu repertório de treino diário. Cazuza,Raul Seixas, Capital Inicial, Plebe Rude, RPM, Ana Carolina, Marisa Monte, Titãs... A lista seria muito longa. Eu passava dia e noite tentando copiar o que eu ouvia saindo das caixas de som.

10 anos, mudei de cidade, mudei de casa, mudei de escola; deixei os pais pra trás. Nos 4 anos que se seguiram, os sons ao meu redor ficaram mais tristes, e muito mais agressivos. Nirvana não saia do meu CD Player por nada, e foi quando eu comecei a pensar que podia transformar em música o que eu sentia.

O primeiro violão, e as músicas voltaram a soar mais alegres, a nostalgia me fez reviver as músicas da minha infância através das minhas próprias mãos, da minha própria garganta. A curiosidade me fazendo descobrir bandas e músicos que que mudaram a minha vida. Ramones, Sex Pistols, Clash, Iggy Pop and the Stooges, me ensinando a botar a fúria pra fora. Blondie, Bikini Kill, The Runaways, Patti Stmith me ensinando que mulheres também podiam fazer rock'n'roll.

Mais alguns anos, alguns conceitos mudados, quilômetros de visão ampliada, e ainda descobrindo aspectos da música que me fazem apaixonar mais a cada dia. Los Hermanos me ensinando novamente a sentir; Maysa me ensinando que em alguma época da história, alguém me compreendeu totalmente; Amy Winehouse me mostrando que belas vozes ainda existem; The Swell Season, me mostrando a beleza de letras tristes e melodias suavez; Little Joy alegrando meus dias de verdade; e tantas outras...

A cada dia eu descubro algo que me conquista outra vez. É o fluido vital que me mantém, é a fome das horas vazias, é a poesia sem letra dos momentos de desespero. É o coração que bate no mesmo compasso. A garganta que vibra na mesma emoção. A pele que não deixa de se arrepiar diante de uma melodia simples. É amor.

Que a arte nos dê uma resposta, mesmo que ela não saiba.

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